Martín havia brincado o dia inteiro e já estava muito cansado naquela hora da noite. Mesmo assim, o garoto não se dava por vencido e não queria se entregar ao sono de maneira alguma. Continuava correndo pelo quarto bagunçando os brinquedos que o avô recém havia guardado, rindo e pulando sobre a cama.

 

— Está na hora de dormir, Martín — implorou o avô assim que entrou no quarto. — Já está tarde demais para um garoto de 6 anos ficar acordado.
— Mas eu não estou com sono ainda — choramingou o neto. — Só mais uns minutos, por favor?
— Hoje não, Martín. Amanhã é sexta-feira e você poderá ficar acordado até mais tarde. Mas como amanhã você vai cedo pra escola, melhor ir dormir de uma vez.

 

O garoto torceu o nariz, mas se conformou.

 

— Posso vestir minha camiseta do Pegasus Del Sur para dormir? — Perguntou o menino com os olhos brilhantes e apelativos.
— Pode, claro que pode.

 

Martín deu um pulo de felicidade e correu pelo quarto em direção de seu armário. Passou por bolas de tamanhos variados espalhadas pelo chão, uma pequena vassoura quebrada na ponta e um monte de meias velhas. Nas paredes do quarto estavam os retratos de uma família inteira torcedora do mesmo time de Argobol. Pai, mãe, irmão.


Os Avós, os tios, os primos… todos felizes ostentando com orgulho a camisa azul e branca do time argentino. Não havia um só membro da família Rodríguez que não fosse torcedor do Pegasus Del Sur, e todos defendiam o time com unhas e dentes quando entravam numa discussão sobre qual sereia o melhor time de Argobol do país.

 

O garoto abriu uma gaveta repleta de itens do time e tirou de lá uma camiseta bem larga que havia sido de seu pai. Estava na família há anos, e tinha o autografo de alguns jogadores que passaram pelo time. Era a camiseta favorita de Martín e ele a usava para dormir pois era grande demais para usar durante o dia.
Ele voltou para cama e se jogou debaixo das cobertas. O avô, Ernesto, lhe deu um beijo na testa e apagou a luz do abajur. No momento em que ele ia dando as costas para sair do quarto, o garoto sentou-se e cruzou os braços.

 

— Vô, o senhor não vai contar nenhuma história?
— Contar uma história?
— Sim, suas histórias me ajudam a dormir melhor.
— Bem, ora, vejamos… você já ouviu todas as histórias que eu tinha pra contar. Eu não saberia mais o que dizer.

 

Ernesto foi coçando a barba em direção da cama e puxou uma velha poltrona para o lado dela. Ficou um tempo olhando o vazio da parede, procurando em sua memória alguma história que o neto ainda não conhecia.

 

— Acredito que já tenha lhe contado as principais histórias, dos bruxos mais famosos aos mais descuidados. Mas…
— Mas? — Interessou-se o neto.
— Mas acredito que o mundo seja ainda mais vasto, com histórias que alguns bruxos não se interessam muito nestes dias.
— E quais seriam?
— Bom, nós temos muitas histórias ao redor do mundo.


Algumas são fascinantes por serem grandiosas, outras por falarem de heróis famosos. E ainda existem aquelas histórias que não tem nenhuma coisa ou outra, mas que são fascinantes quando envolvem coragem, força e determinação.
— Legal — empolgou-se Martín. — E que história seria está?
— Acho que você já tem idade suficiente para conhecer a história de Perseu e da Medusa.
— Perseu e Medusa? — Estranhou o garoto. — Quem são estes?
— Quem foram, melhor dizendo. Mas já posso lhe dizer que foram pessoas importantíssimas, e mesmo com alguns defeitos, ambos fizeram parte de nossa história.

 

O avô ligou o abajur e cruzou as pernas. Recostou-se na poltrona e pediu para que o neto se deitasse. Ele limpou a garganta para se preparar para a história e começou da forma mais teatral possível:

 

“Era uma vez um jovem chamado Perseu. Ele era um herói grande e forte, que havia sido criado pela mãe à muito custo. Mesmo contra todos os problemas, ele acabou se tornando um semideus conhecido no mundo todo…”

 

— E por que ele se tornou conhecido? — Interrompeu o neto.
— Eu já ia chegar nesta parte. Ele se tornou famoso por derrotar a Medusa.

 

“Medusa era uma mulher linda, mas que acabou se apaixonando pela pessoa errada e recebeu uma maldição por isto, se tornando uma mulher terrível, mas tão terrível, que quem olhasse diretamente para ela se transformaria em peeedraaaa”

 

O avô se pegou dramatizando a história toda para o menino.

 

“Perseu recebeu a missão de derrotar a Medusa, e assim o fez. Mas depois que ele a matou, um lindo cavalo voador, com longas asas e pelo branco saiu da barriga do monstro…”

 

— Esta não me parece uma boa história — disse o neto, pegando o avô completamente de surpresa.
— E por que não?
— A moça não fez nada de errado. Ela se apaixonou por alguém, foi transformada num monstro, e ainda foi morta. Não me parece certo.
— Bem, você não está vendo o quadro como um todo. Esta história mostra que, apesar dela ter se transformada num monstro, ela, ao morrer, fez nascer algo muito belo. E assim é o mundo. Mesmo nas coisas mais terríveis podem surgir coisas belas.

 

Martín pensava se havia gostado da história ou não. Seu avô, ao perceber isto, resolveu contar mais alguns detalhes.

 

— Bem, eu não queria entrar em detalhes, mas eu conheço muito bem esta história, e sei de coisas que poucos sabem hoje em dia.

 

Ele novamente se escorou para recomeçar a história:

 

“Perseu era um jovem forte e corajoso, destinado a fazer muitas coisas grandiosas em sua vida. Ele nasceu de uma família pobre no Equador, mas foi criado com muito amor e carinho por sua mãe que lhe dedicou muito amor.
Desde muito novo Perseu teve que correr atrás de seus sonhos, mas isto nunca lhe fez recuar. Ele cresceu muito, e ainda na juventude tinha muita força e habilidade.


Infelizmente, Perseu também havia se tornado um jovem vaidoso, com uma preocupação além do normal sobre si mesmo, por várias vezes deixando os outros em segundo plano. Nem preciso dizer que ele era um cabeça-dura de primeira, e que muitos amigos, com o tempo, deixavam de falar com ele por causa deste comportamento”.

 

Ernesto deu uma fungada, apertou os lábios e cerrou os olhos. Ele parecia perdido na história que estava contando, e em alguns momentos gaguejava, indeciso, sem saber se deveria ou não continuar contando.

 

“Onde eu estava? Ah, sim. Perseu. Bem, como eu ia dizendo, Perseu realmente era um rapaz muito bonito e esforçado, mas muitas vezes ele deixava isso lhe subir à cabeça. Não ligava muito para a opinião de outras pessoas, e por isto mesmo tentava fazer tudo sozinho. Uma coisa que chamava a atenção em Perseu era sua imensa vontade de jogar Argobol…”

 

— Argobol? — Gritou Martín sentando-se na cama como se aquela palavra fosse algum feitiço que despertava seu entusiasmo.
— Sim, Argobol. Mas deite-se e me deixe terminar a história.

 

O garoto se deitou e cruzou as mãos sobre a barriga. Agora ele estava mais atento que nunca, pois era um apaixonado pelo esporte. O avô ajeitou os óculos e continuou a contar a história.

 

“Enfim… Perseu tinha uma vontade imensa de jogar Argobol, e desde muito novo tratou de entrar num time de sua cidade.


Não demorou para surpreender a todos, claro, pois sua vontade era tanta que ele realmente deixava os adversários comendo vento, como costumam dizer.


Ele virou titular e em pouco tempo já era capitão do time. O problema, como eu já tinha dito, é que Perseu tinha um ego enorme e tomava algumas decisões por conta própria e desagradava o restante dos jogadores.


Acredita que uma vez ele trocou as cores do uniforme por conta própria pois achava que as cores antigas não combinavam com ele? Pois lhe digo, até isto ele fez.


Nem preciso dizer o quanto os outros ficaram furiosos com ele, pois além disso, ele costumava a brigar com todo mundo, pelos mais variados motivos. Brigava quando jogavam mal, quando jogavam melhor que ele, quando alguém fazia alguma estratégia nova. Perseu era um brigão, e com o passar do tempo, acabou saindo de vez do time para montar um time somente dele.


Neste período Perseu havia se mudado para cá, para a Argentina, e colocou o nome do time que criou aqui de Albatroz de Galápagos, em homenagem ao seu país. Como dono do time ele poderia tomar as decisões sozinho, sem consultar ninguém.
No início deu tudo certo, pois o time realmente cresceu, apesar das constantes mentiras de Perseu. Pois mesmo mandando em tudo o que acontecia dentro e fora do campo, ele ainda tirava um tempo para enrolar os outros.


Acredita que ele mentia para os próprios colegas de time que o campo estava interditado só para poder treinar sozinho? É verdade. Perseu fazia isto porque tinha medo de alguém do time ser melhor que ele.


Bem, quando Perseu estava no seu auge, eis que ele conheceu Julieta…”

 

— Quem? — Interrompeu novamente o garoto.
— Julieta é a Medusa, mas já vou chegar nesta parte e você já vai entender.

 

“Julieta era uma moça incrivelmente bonita e muito simpática. Ao contrário de Perseu, ela se interessava muito pelos outros e sempre ajudava quem podia. Gostava de falar a verdade, mesmo que fosse se meter em problemas por isto, e esta era uma de suas melhores qualidades.


Ela era uma argentina de personalidade forte e decidida. Conheceu Perseu durante uma partida de Argobol, onde Perseu havia se destacado dos demais, chamando a atenção de quase todas as moças da arquibancada.


Claro que Julieta havia achado aquele rapaz incrível, e para a surpresa dela, o rapaz a havia avistado na arquibancada e também havia se encantado por ela.
Ao fim do jogo Perseu a procurou na saída do campo, e para sua felicidade, Julieta ainda estava por lá. Eles conversaram e riram por algum tempo, e acabaram marcando um novo encontro para alguns dias depois.


Julieta estava perdidamente apaixonada, e talvez fosse por este motivo que a fazia não perceber algumas coisas que aconteciam ao seu redor. Pois Perseu não havia mudado em nada sua personalidade, e ainda era um rapaz egoísta quando eles começaram a namorar.


Julieta e Perseu pareciam um casal perfeito e invejados por todos. Julieta era incrivelmente inteligente, decidida e bonita, e ele um atleta de primeira, e relativamente boa pinta.


Infelizmente, Julieta estava completamente cega de amores, e não percebia como Perseu lhe travava mal. Ele era um mentiroso contumaz, como eu já havia falado, e sempre que podia enrolava a pobre moça com uma de suas mentiras. Perseu continuava flertando com várias outras meninas, enquanto ela o esperava para sair, por exemplo. Eu não sei exatamente qual era o problema dele, mas o rapaz mentia até em coisas que não precisava.


Uma vez, pelo que eu soube, mentiu para Julieta que estava treinando somente para não dizer que estava no mercado comprando algumas coisas que sua mãe havia lhe pedido.


No início Julieta não percebia estas pequenas mentiras, mas quando elas começaram a se tornar maiores, a coisa piorou.


Perseu começou a namorar com uma colega de time no mesmo período em que namorava com Julieta, e diversas vezes mentia para Julieta para poder ficar com esta nova menina.


Uma vez ele a deixou esperando na porta de um teatro, no dia de seu aniversário, para depois dizer, novamente, que havia ficado treinando no campo de Argobol.
Mesmo não sabendo de todas estas mentiras, havia alguma coisa em Julieta que indicava que algo não estava bem: Já não cuidava de si. Vivia o tempo todo se humilhando para estar com Perseu, que vivia lhe rebaixando, dizendo que Julita deveria se cuidar, pois ele era bom demais para estar com ela.


Sempre que Julieta interrogava Perseu sobre o porquê de ele preferir ficar no campo, o rapaz se tornava agressivo, discutindo com ela e ameaçando lhe deixar caso insistisse neste tipo de conversa. Julieta se desculpava, se humilhando ainda mais para tentar manter o namoro.


Numa destas noites em que Perseu não compareceu em um jantar que eles haviam combinado, Julieta foi até a casa dele para saber se estava tudo bem.


Encontrou-o diante da casa, beijando outra garota. Julieta ficou furiosa e brigou com Perseu, mas ele era tão egoísta e tão bom de conversa que acabou convencendo-a de que a culpa era dela por ter ido até lá sem avisar. Ainda apaixonada, Julieta pediu desculpas a ele.


Com o passar do tempo Julieta foi se sentindo mal sobre tudo isto, mas não tinha coragem para enfrentar o namorado pois temia o término do namoro.


Foi neste momento em que ela teve uma ideia para tentar se reaproximar de Perseu: Havia decidido treinar para entrar no time de Argobol para lhe fazer uma surpresa.
Durante vários dias Julieta treinou escondida, suando a camisa, como se diz, e se superando cada vez mais. Ela estudou as regras e estratégias sozinha, e enquanto Perseu estava distraído com suas mentiras, Julieta havia se tornado uma excelente jogadora.


Numa manhã qualquer ela apareceu de surpresa no campo de Argobol do Albatroz de Galápagos. Perseu ficou furioso com sua aparição ali, mas não a impediu de fazer um teste para entrar no time pois tinha certeza que ela não passaria.


Para o espanto de Perseu, Julieta jogou maravilhosamente bem, fazendo pontos, dando passes e voando com sua vassoura por entre os jogadores como se tivesse nascido para aquele esporte.


Após o jogo todos os jogadores aplaudiram o desempenho de Julieta, mas Perseu continuava irritado por ela estar ali.


Claro que Perseu tinha medo que ela descobrisse sobre sua outra namorada, mas ele também sentia que Julieta estava invadindo um espaço que ele havia criado somente para si.


Para a tristeza de Julieta, Perseu lhe recusou no time, inventando que não tinham mais vagas para novos jogadores. Claro que era uma tremenda mentira, já que o teste naquela manhã havia sido marcado justamente porque faltavam jogadores.


Pobre julieta. Ela ficou arrasada e foi para casa devastada. Triste e sem perspectiva alguma sobre o namoro, ela se olhou no espelho, ficando paralisada com o que viu: Uma moça devastada, humilhada e sem nenhum pingo de amor próprio. Sabia que o namorado não era confiável e decente, mas agora sentia como se Perseu tivesse lhe tirado a vida…”

 

— Acho que entendi — Interrompeu Martín. — A moça bonita tinha se tornado um monstro?
— Bem… — riu o avô, — não literalmente, claro. Ela havia se tornado feia pois havia perdido seu amor próprio. Assim como na história que contei antes, em que Perseu havia matado a Medusa, aqui Perseu havia destruído a pobre Julieta também.
— E da Julieta nasceu um cavalo voador?
— Estou quase chegando lá.

 

“Cansada de ser humilhada pelo namorado, Julieta decidiu que não iria deixar isto acontecer novamente. Se Perseu não iria lhe deixar jogar no time, ela agora faria o seu próprio time.


Julieta começou a recrutar outros jogadores para seu time, e com o passar dos dias conseguiu montar um time completo.


Ela conhecia muito bem a história de Perseu e de Medusa. Ela própria se sentia um monstro por ter deixado tudo aquilo acontecer, mas agora estava disposta a fazer algo belo nascer desta tragédia toda. Então não teve dúvidas em escolher o nome do time quando foi lhes inscrever no campeonato: Pegasus Del Sur…”

 

— Pegasus Del Sur? — Gritou o garoto pulando da cama. — Está falando do nosso time? Do nosso Pegasus?
— Sim, estou — orgulhou-se o avô. — Caso você não saiba, Pégaso é o nome do cavalo voador que nasceu da Medusa. Um belo cavalo branco, com asas enormes, símbolo da imortalidade. Julieta deu uma estilizada no nome, mas Pegasus Del Sur nasceu do coração ferido de Julieta, criadora do time. Claro que isto foi há muitos anos, e que depois disto o Pegasus cresceu muito.


Mas foi assim que ele nasceu. Graças à Perseu.
— Sim, mas Perseu era mau! — Indignou-se Martín.
— Eu não acho — respondeu o avô com um sorriso amável no rosto. — Na verdade, eu sou grato à Perseu e suas mentiras. Ele é um herói para mim. Pois foi graças a ele que Julieta Micaela terminou o namoro e um tempo depois conheceu alguém decente, que lhe tratou bem e que veio a se casar com ela…
— Julieta Micaela? — Estranhou o menino.

 

Ele pulou da cama e correu até a parede onde estavam os quadros da família. Tirou um dos quadros e voltou correndo para a cama, entregando-o para o avô.

 

— Mas Julieta Micaela era o nome da vovó — disse o menino confuso.
— Eu sei — respondeu o avô olhando a foto de sua falecia esposa vestindo uma camiseta do Pegasus Del Sur. — E agora você já sabe porque toda nossa família torce para este time, não?

 

O garoto ficou com os olhos brilhando. Cobriu-se com os cobertores enquanto seu avô devolvia o quadro da avó para seu lugar na parede.

 

— Durma bem Martín — disse o avô. Ele apagou a luz do abajur e saiu do quarto, fechando a porta.

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