A Querida de Ferentari – A Escola Palavras chave:

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Para alguém de fora, poderia parecer que as pessoas estavam fazendo fila em frente a uma cozinha móvel de sopa para os sem-teto. Mas os viciados estavam aproveitando a pouca ajuda disponível: seringas limpas. Para as pessoas que esperaram pacientemente ao redor dessa ambulância, quatro noites por semana, pacotes novos de agulhas eram uma tábua de salvação e uma forma de moeda.

Ferentari, o gueto superpopuloso de Bucareste, capital da Romênia, era o palco triste dos sonhos da menina Crina, que puxava nas lembranças a imagem da única vez que estivera diante do rio Dâmbovita: a imensidão de água e esperança dos romenos.

O vício e a fome eram velhos conhecidos daquelas famílias que pouco conheciam sobre dignidade. A morte era exímia frequentadora da Rua Vitor, 7, a casa da família Petrescu, que de futuro só tinha mesmo o endereço.

Logo na infância, percebeu que conseguia fazer coisas que outras pessoas não conseguiam e por muito tempo escondeu, por medo de retaliações. Quando recebeu a carta convocatória da Școala Vrăjitoare din Transilvania (Escola Bruxa da Transilvânia), foi enviada de pronto pelo pai, mesmo sem saber exatamente do que se tratava. Após a morte da esposa, deu um jeito de se livrar de cada um dos 6 filhos, por medo ou preguiça.

Não demorou para que se destacasse na dinastia Bran, talvez a mais agressiva e justa dentre as três dinastias que compõe a Vrăjitoare din Transilvania. Para alguém que nunca viu propósito no mundo em que vivia, descobrir que existia outro foi mais que um conforto… Um renascimento!

Por anos as corujas cruzaram a cordilheira dos Cárpatos com destino a Rua Vitor, 7, a velha rua do Futuro, com os mesmos dizeres: “Que a paz encontre Ferentari, papai”. Alguns anos depois voltou para constatar que a paz ainda não havia encontrado Ferentari, mas que seu pai encontrou a dele dois anos após o início de seus estudos.

Foi quando decidiu se mudar para Dealurilor, a maior cidade bruxa da Romênia.

A Escola Superior de Dragões da Romênia sempre foi um sonho para os adoradores de criaturas mágicas e a Romênia é o paraíso da espécie. A tradição é tanta que essa informação é de conhecimento até do mundo não-mágico, que constantemente usa o país e os seus animais em suas histórias de fantasia. Esse era o sonho de Crina desde que segurou seu primeiro ovo de dragão, aos treze anos, em uma aula do Sr. Ivan.

Porém, o valor era fora da realidade dos bruxos romenos, de modo que a escola era praticamente frequentada exclusivamente por estrangeiros. Seria um sonho distante da jovem bruxa criada longe da magia, isto é, se não fosse uma exímia integrante da dinastia de Bran. Crina não se deu por vencida e, foi a primeira aluna a entrar na ESDR com desconto de pátria.

Desde então seus compatriotas usufruem da instituição mais respeitada do mundo.
Crina abraçou a oportunidade como se fosse a última e frequentemente se destacava entre os outros alunos. Dentro do seu tempo, desfrutava de tudo que a escola tinha a oferecer e isso incluía o campo de Argobol.

A ESDR era conhecida pela qualidade de seus atletas nos jogos interclasses. Entre as maçantes aulas de primeiros socorros e as divertidas e perigosas aulas práticas, Crina se dedicava à função de atacante com o mesmo empenho que dedicava às provas de fim ano. Com a proximidade do campeonato, resolveu conversar com Kléber, um francês de muito prestígio e cabelos sedosos, mas com histórias um tanto quanto embaraçosas de aulas com trato de dragões.

Sem dúvidas o capitão do time principal não era um exemplo de coragem, mas neste momento o importante era que ele e seus colegas dos músculos de aço defendiam a Escola Superior de Dragões da Romênia nos jogos contra outras escolas. Assim que apareceu o primeiro cartaz buscando novos jogadores, Crina se encheu de coragem para procurá-lo. Porém, não foi recebida da maneira que achou que seria:

– Agradeço o interesse, Crenia… Crinia… Enfim, são jogos muito duros e estamos procurando jogadores de porte mais, mais… Atlético! – respondeu Kléber enquanto colocava o cabelo atrás da orelha – É o time principal e não podemos brincar, você entende, não é? Somos a única escola da Romênia na competição. Jogo para fortes. Para fortes… – completou enquanto lhe virava as costas sem mais nem menos.

Naquele momento, ainda incrédula com a situação, Crina começou a lembrar das poucas vezes que saiu de Ferentari com os pais quando criança. Kléber em alguns minutos de conversa conseguiu lhe dirigir o mesmo olhar que as pessoas do centro direcionavam à sua família. Por uma fração de tempo, mais uma vez, experimentou aquela situação que parecia mais humilhante agora do que antes. Após o período de perplexidade, não teve outra saída senão voltar à rotina.

 

Os cartazes continuavam lá, onde sempre estiveram. Buscando um jogador atlético para defender a escola, mas por algum motivo torpe, Consuelo, uma aluna espanhola que ostentava mais do que seu 1,60cm, também foi recusada por Kléber. E depois de Consuelo, o mesmo aconteceu com a brasileira Catarina, a russa Irina, e tantas outras que não fazia nem mais sentido contar. Foi quando Crina resolveu procurá-las:

– Assim como eu, vocês não foram aceitas no time da escola. – Lamentou. – Por algum motivo que escapa à nossa vontade e à nossa dedicação, queridas, não tem lugar para nós, por mais que os cartazes continuem espalhados diante de nossos olhos.

Talvez tenha doído mais em Crina do que em suas colegas, porque para ela, não era só a negativa de um evento esportivo, era além. Foi o olhar, “aquele” olhar. O olhar que ofendeu a memória do finado pai e da mãe, que perdeu para o vício tão cedo. A ofensa se estendeu aos irmãos que nunca mais tivera notícia.

Doeu porque era “o olhar” para o sapato de borracha na infância, às margens do rio Dâmbovita, sua memória mais bonita. Era “o olhar” daqueles que passeavam pela calçada enquanto ela admirava a extensão das águas e se protegia do frio com o suéter manchado de seu irmão Alin… E quanta saudade sentia do cheiro de Alin… Insistiu:

– Queridas, neste mundo, mágico ou não-mágico, precisamos ir adiante por mais injusto que tudo pareça. Nós podemos criar um time onde a vontade das pessoas será a maior das leis. Um time do povo para o povo, onde as pessoas serão bem-vindas independente do resultado que poderão trazer.

Por mais político que tenha soado às meninas que não tiveram toda a motivação advinda das experiências que eram só de Crina, todas se animaram com a possibilidade. Imediatamente começaram a cogitar nomes e cores para o “time do povo”. Foi quando foram surgindo as ideias.

– Nós somos as queridas de Crina Petrescu! – lembrou Catarina, referindo-se a maneira carinhosa com que a romena usava o adjetivo para tratar com o time.

– Mais que isso… Vocês são as queridas da Romênia. Somos as Dragas da Romênia! – Se emocionou a Srta. Petrescu usando o próprio idioma.

As queridas da Romênia não competiram aquele ano. O time da ESDR saiu do campeonato na primeira fase e metade do time foi obrigado a parar de jogar pelo baixo rendimento escolar. Crina Petrescu foi a primeira pontuadora no campeonato interclasses e, no ano seguinte, as queridas da Romênia trouxeram a vitória para a Escola Superior de Dragões.

 

CONTINUA