Puxou a velha tranca de madeira da porta, que por anos, e talvez para sempre, enganchava do mesmo jeito. Bastava uma lixa ou um movimento leve de varinha para solucionar de uma vez por todas o problema da trava, mas talvez esse fosse o charme de ingressar na “Casa Horta”, tornando-o indigno de conserto. Era às boas-vindas no refúgio com cheiro de mato da Horta Boticários – mas às vezes doía.

 

Berlamina sabia bem como não prender o dedo na tranca, foram anos de prática, mas não sabia como voltar à reserva da família sem Sofia.

 

Após um ano de sua partida, tudo estava justinho como havia deixado. O vai e vem dos botânicos e zoologistas que usavam a casa de apoio, enquanto desbravavam a reserva em busca dos insumos mais frescos, não arredou os móveis, não deslocou os quadros e tampouco tirou as almofadas do lugar.

 

Era como se Sofia, o membro da família Horta que mais usufruiu da casa da reserva, fosse entrar a qualquer momento.  Abriria o sorriso, as janelas e esfriaria um bolo. Naquele momento, como se fosse possível ao longo do último ano, Berlamina experimentou uma nova dor.

 

Deixou as mudas que trazia em cima da extensa mesa de madeira da sala de estar, calçou as longas botas e foi de encontro a equipe que estava na reserva pela temporada de amoras flutuantes.

 

Por mais que estivesse morrendo por dentro, e estava, não se poderia colher as tais amoras o ano inteiro.

 

Além de deliciosas, as amoras flutuantes têm propriedades que são extremamente cicatrizantes. Berlamina, junto com Sofia, fez um planejamento de seis anos para salvar a espécie quase extinta. A reserva ganhou uma área destinada ao plantio e, botânicos dedicados para cuida-las diariamente. Além da preocupação de salvar a espécie e fornecer poções de qualidade, existia a necessidade de tornar o produto acessível a todos os bolsos.

 

A colheita, apesar de divertida, era a parte mais crítica do processo. Provavelmente foi um dos motivos que levaram à amortização da classe.

 

Quando maduras, quebram o caule que as prende a árvore e flutuam para longe. Brincam, zombam e derrubam os pegadores de suas vassouras. Os pobres profissionais são obrigados a captura-las fazendo acrobacias no ar.

 

Sem procrastinar, Berlamina seguiu direto para a plantação trajando a antiga camisa verde xadrez e o macacão azul desbotado.

 

– Minhas amorinhas, minhas amorinhas… Aí minhas amorinhas – gargalhava enquanto tentava proteger o grande chapéu com girassóis da ventania

 

– Pegamos algumas para o bolo, madame? – gritou Nicolau enquanto tentava se equilibrar em pleno voo – Posso pegar umas preguiçosas e madurinhas que demoraram para se soltar!

 

– Não se preocupe, Nicolau. Quero apenas uma para provar da safra – disse Berlamina enquanto fazia uma série de reflexões – Colham essas amoras danadas com carinho. Volto antes que caiam dessas vassouras – gargalhou.

 

Saiu sem rumo pela reserva e, talvez por saudade, ou desespero, perdeu o controle dos pés. Quando deu por si estava em frente a estufa de vidro, ou, moradas das camomilas, como Sofia gostava de chamar.

 

Há sessenta anos a madame, apelido que ganhou dos elfos que a criaram, era uma moça cheia de sonhos que errou o caminho da estufa das escandalosas mandrágoras no primeiro dia de trabalho, mas encontrou uma razão e um propósito para toda uma vida.

 

Mais uma vez, Berlamina estava hipnotizada em frente a estrutura de vidro.

 

Prestes a se entregar ao casamento arranjado por seu pai, Hector Fajardo, presidente da federação na época, soube naquele momento que não dividiria a vida com Nestor, o jovem promissor do oratorium que tinha tudo para chegar ao poder. Em uma fração de segundos, a jovem empolgada com o novo trabalho conseguiu enxergar o futuro.

 

Do lado de dentro estava Sofia Horta, uma das herdeiras do império Horta Boticários. Com a delicadeza, que era tão sua, manuseava as plantas, especialmente lindas com o desabrochar das flores.

 

Sutilmente, colocava o cabelo loiro atrás da orelha de um jeito tão charmoso que parecia proposital.

 

Quando foi flagrada, abriu o característico sorriso:

 

– É tudo tão lindo, não é? Sinto que poderia ficar a vida inteira aqui – Disse Sofia com a voz branda enquanto abria a porta em tom convidativo.

 

Uma lágrima escorreu na velha Berlamina, em meio as lembranças

 

– É lindo, Sofia, e pra sempre será lindo, minha Sofia. Realmente poderíamos passar a vida inteira aqui e, passamos. Obrigada, Sofia! – se entregando ao pranto – Obrigada por dividir a sua vida comigo e, mesmo depois da partida, continuar dando direção à minha vida.

 

De alguma forma, a visita mais evitada pela dor que poderia trazer, foi a mais reconfortante desde que ficou viúva.

 

Berlamina voltou para o campo de amoras flutuantes e, se orgulhou de ser mais um plano que traçou junto com a companheira. Enquanto se divertia com o balé das amoras e os tombos dos pegadores, sussurrou baixinho:

 

– Nós conseguimos!  Nós sempre conseguíamos!

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